Pinguim Ghost: O encosto carrapato


Vocês já ouviram falar da experiência quase morte (EQM)?
"... Uma das mais notáveis observações nestas experiências tem sido de que aqueles que as vivenciaram quase invariavelmente acreditam que tiveram um lampejo da vida após a morte, e estão convencidos de que sobreviverão à morte quando esta enfim vier."
Meus amigos, eu estou trazendo esse assunto à baila por causa de um episódio muito "cabuloso" que aconteceu comigo e que eu tenho certeza que tem a ver com uma experiência quase morte! Eu vou relatar a vocês tudo o que eu vivi e passei enquanto estava experimentando as sensações de um quase desencarne, ok? Vamos ao relato:
Eu tinha marcado um joguinho, uma feijoada regada a muita cerveja e caipirinha com amigos, mas para conseguir chegar até o meu El Dourado, eu precisava engabelar a Princesa. Ela tinha marcado comigo para assistirmos pela quinquagésima terceira vez o filme "GHOST"... Caros colegas, eu até gosto do filme, mas eu não aguento mais vê-lo reprisado na sessão da tarde...
Eu, com minha sagacidade que me é peculiar, disse a ela que estava me sentindo mal... Ficaria deitado e não gostaria de ser incomodado e que, com imenso pesar e dor no coração, eu não poderia assistir o sensacional filme com a linda história de amor além da vida, do casal Sam e Molly, e fora que eu perderia a atuação hilária da Whoopi Goldberg fazendo o papel da médium charlatã Oda Mae Brown...
Fiz cara de desolado e subi até o meu quarto. Tranquei a porta e me preparei para a tarde de diversão com a rapaziada... Quando já estava tudo esquematizado, eu coloquei uns travesseiros para parecer que eu estava deitado em minha cama e abri a janela para a minha escapada cinematográfica...
Quando eu coloquei meu pé no parapeito, eu não tinha reparado que havia um monte de excrementos de pombo. Eu derrapei naquele "merdelê" e caí batendo com a minha cabeça oca em uma pedra que ficava no jardim para onde dava a janela do meu quarto...
Com a forte pancada, eu senti a minha cabeça como se tivesse sido atingida por um tiro... A dor era alucinante... Eu fui apagando, perdendo minha consciência... No momento em que isso acontecia, eu me vi saindo do meu corpo e a dor foi anestesiando-se como que por milagre, e eu me senti flutuando e indo em direção a um túnel ... Quando eu compreendi o que estava acontecendo, eu me recusei a prosseguir com aquele momento "Knockin’ on Heaven’s Door" a la Bob Dylan...
Nada de Batendo na Porta do Paraíso (pelo menos não agora!) Eu me concentrei para voltar ao meu corpo... Quando eu olhei para o centro do túnel vi pessoas vestidas com túnicas muito alvas e que irradiavam uma espécie de Luz dos seus semblantes complacentes... Eles me chamavam pelo nome e diziam que estavam me esperando e que era para eu me apressar, pois o "portal" se fecharia logo... Eu disse: "Nananinanão! Eu sou muito novo para morrer, tenho muita coisa pra fazer por aqui... Eu quero ficar e estou atrasado pro meu "programinha" com a galera! Além do mais, eu não quero deixar a minha Princesa sozinha nesse mundo, pois eu a amo apesar de todos os meus vacilos e trapalhadas... Eu não vou deixar aquela lindeza viúva e dando sopa por aí... Nem pensar! Nada feito, senhores fantasminhas! Eu sou o Carvalho da minha Dríade! Sem mim ela vai padecer, vai se acabar de tristeza!"
Me agarrei a esse plano físico com todas as minhas forças, o "portal" se fechou e aquelas entidades se foram... Eu cai no gramado do Jardim... Olhei meu corpo, quis levantá-lo, quis me "incorporar" nele, mas nada acontecia...
Estava pensando em como resolver aquele imbróglio quando ouvi um grito aterrorizante que me fez eriçar as penas! Era a Princesa que tinha escutado o barulho estranho no jardim e foi conferir o que estava acontecendo... Ela se deparou com o meu corpo inerte e já sem vida.
Após o susto e dor descomensurável que a Princesa sentiu com a minha partida para o além, as decisões cabíveis tinham que ser tomadas... Remoção do corpo, o comunicado à imprensa do meu falecimento, o desfile no carro do corpo de bombeiros, o velório no salão da Câmara Municipal da cidade onde eu residia... A grande comoção dos populares, a fila imensa para dar o último "adeus" a essa ave tão querida e apaixonante, foi comovente! Vocês devem estar pensando que nem morto eu deixo de ser soberbo, megalomaníaco e delirante, né? Pois é, a morte não me deu uma "repaginada" como alguns poderiam acreditar... Ok! Exagerei um pouco... No máximo quem compareceu foram uns pouquíssimos amigos e uma quantidade imensa de credores querendo saber da Princesa quem assumiria as dívidas que eu deixara como única herança... Continuei sendo o mesmo Pinguim de antes, sendo que agora eu não era mais Pinguim Gelado, e sim Pinguim "Sam", e o mais importante pra mim era entrar em contato com a Princesa "Molly"... Precisava pedir desculpas pelo tanto que eu aprontei com ela, pelas tantas vezes que a fiz chorar e se preocupar com as minhas atitudes egoístas e inconsequentes... Eu tinha que tirar esse peso da Alma para conseguir ter a tão sonhada paz de espírito...
Mentira! Eu não estava era a fim de deixar a minha mulher dando sopa no mundo físico enquanto eu tocava harpa em nuvens! Eu ficaria por perto para tomar conta do que era meu, ou, pelo menos, eu acreditava que ainda fosse... Sabia que com a notícia do meu desencarne, muitos pretendentes iriam começar a acorrer, ciscar em volta da minha amada! Esses pensamentos me consumiam, pois nunca neguei o meu ciúme possessivo! Eu queria entrar em comunicação com a Princesa Molly e convencê-la a entrar para um convento e lá ficar até o final da sua existência, se guardando linda e pura para o nosso reencontro no plano espiritual...
Bom, vocês devem estar se perguntando o seguinte: Se eu sou, como no filme "Ghost," o personagem Sam e a Princesa a personagem Molly, quem seria Oda Mae Brown? Quem seria a nossa Whoopi Goldberg tupiniquim? Resposta óbvia, meus amigos: Dona Jurema! A minha faxineira que também era médium de incorporação num centro de candomblé do subúrbio!
Ela seria minha ponte, meu atabaque que eu faria rufar pra fazer chegar a mensagem até a MINHA mulher!
Eu pensava: “Quando a Princesa souber que eu sobrevivi à morte e estou tentando me comunicar, vai dar pulos de alegria! Ela vai me abraçar e dizer que estava morrendo de saudade... E eu vou aproveitar a deixa para propor-lhe a reclusão num convento (eheheh)... Não vejo a hora de incorporar na dona Jurema Mae Brown!”
Esperava ansiosamente a vinda da faxineira... Assim que ela chegou para mais um dia de trabalho eu descobri uma coisa que eu não gostei: Nós, espíritos, temos a capacidade de “escutar” o pensamento dos encarnados... Assustei-me quando “ouvi” dona Jurema dizer: “Sabe, Deus que me perdoe, mas agora que aquele pinguim bagunceiro e porco não está por aqui, o trabalho ficou bem mais fácil e rende muito mais...”. Eu fiquei boquiaberto com aquilo... Apesar de já saber das críticas que ela fazia à minha maneira nada higiênica de proceder, foi duro ser surpreendido com aquele desrespeito a minha venerável memória... Bom, mas o plano deveria seguir seu curso... Aproximei-me de dona Jurema Mae Brown mas como eu era um encostinho estagiário, eu não sabia bem como agir... Fiquei procurando a “porta” pela qual eu conseguiria ter acesso aos instrumentos físicos que me facilitariam a tarefa... Enquanto eu vasculhava, a senhora, sensitiva que era, se viu tomada por um arrepio que foi da cabeça até o dedão do pé... Ela logo gritou: "Desconjuro! Sai de mim! Tá amarrado, seu egum! Vai buscar a Luz!”. Eu me assustei com aquela manifestação toda! Eu comecei a gritar: “Cala a boca dona Jurema Mae Brown! A senhora não está me reconhecendo? Sou eu, o Pinguim Sam! Não grita assim, porque daqui a pouco não vou ser eu que vou baixar aqui, mas a polícia!”. Ela escutou a minha voz e disse: “É o senhor, seu Pinguim Sam? O senhor está de volta? Conseguiu arrombar as trancas do portão do Inferno? O senhor é malandro, mesmo!”. Eu dei um grito com ela quando ela disse que eu consegui fugir dos sítios infernais... Fiquei furioso com a ofensa... Ela se assustou mais ainda... Correu a procura da Princesa Molly que se encontrava no seu quarto... Era dona Jurema Mae Brown correndo na frente e eu atrás cuspindo marimbondos... Ela invadiu os aposentos da Princesa Molly gritando: "Ele está aqui! O encosto está aqui! O egum trevoso do senhor Pinguim Sam está me atormentando e assombrando, dona Princesa!” A Princesa Molly quando ouviu isso, subiu em cima da sua cama, e a dona Jurema Mae Brown deu um pulo olímpico que a fez subir na cama junto com a Princesa Molly... As duas se abraçaram e começaram a gritar apavoradas! A Princesa passou a mão num crucifixo que ficava na parede acima da sua cama e começou a bancar a exorcista... "Sai Espírito das trevas! Deixa essa casa, aqui não tem mais nada pra você, Pinguim Sam... Vai buscar a paz para o seu espírito, pois você saiu para farrear e perdeu o lugar!” Eu não podia acreditar naquela quizumba toda! Eu pensava: “Mas no filme não acontece desse jeito... O que deu errado? Agora que eu morri não sou mais a alma gêmea dela? Virei assombração, encosto indesejável?”
De repente eu me senti sendo puxado por um imã numa velocidade estonteante... Quando me dei conta, eu estava no jardim do castelo caído na grama e com uma baita dor de cabeça... A minha volta estavam a Princesa e a dona Jurema ... Eu me levantei meio tonto... Inventei para a Princesa que provavelmente tivera uma crise sonambúlica e cai da janela... Já dentro do castelo e recuperado do pancada e desmaio, a Princesa mais tranquila me convidou para assistir ao filme “Ghost” uma vez que eu já estava melhor... Eu me recusei veementemente... Liguei para a locadora e pedi o filme “O Céu pode esperar”...

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