Homenagem ao Dia do Índio


Eu a Princesa estávamos viajando de avião... Iríamos fazer uma viagem para espairecer, pois estávamos com problemas sérios na Editora Pinguim Gelado... Devíamos um empréstimo que foi feito para viabilizar a impressão de um livro meu que eu achei que seria um “boom” , um sucesso literário que me alçaria à plêiade dos mais brilhantes e vendáveis escritores, mas não foi bem isso que aconteceu...
A crítica caiu de pau, a brochura ficou “broxa” nas prateleiras... Estávamos pensando em passar uns dias num hotel em plena Amazônia...
No meio da viagem o avião começou a apresentar problemas... O piloto, pálido, nos avisou que teríamos que fazer um pouso de emergência, pois estava impossível de prosseguir com a viagem até a pista que a princípio estava reservada para a nossa aterrissagem... Ele começou a procurar uma clareira no meio da floresta para descer com a aeronave... Eu me agarrei à Princesa e comecei a gritar, a me desesperar, a dar um espetáculo de descontrole e pânico... A Princesa me deu um safanão e me disse que se era pra gente morrer, que eu mantivesse uma certa dignidade e não agisse feito uma galinha que tivesse acabado de colocar um ovo. Disse também que eu estava tirando a atenção do piloto com todo aquele chilique... Eu retruquei: "E quem lembra de conselho de livro de auto ajuda e auto controle, sua doida, com a morte mordendo o meu rabinho? Eu quero é soltar a franga mesmo! Só não boto um ovo, porque sou uma ave macho!" A Princesa sacudiu a cabeça como que desolada e deu um golpe de karatê que me fez apagar, pois na mente dela, se a morte era inevitável, já uma ave escandalosa, era dispensável...
Depois de procurar por alguns minutos, o piloto encontrou o local aonde ele arriscaria o pouso perigoso... Fez o comunicado de que estava se preparando para a descida e assim procedeu...
Após muitas barruadas e saculejadas o avião desceu razoavelmente bem... Eu acordei pensando que já me encontrava em outro plano, mas a Princesa me disse que o único plano seria a gente conseguir entrar em contato com alguém e sair dali... Pediu-me o celular, mas eu disse a ela que tinha deixado em casa, pois não queria os credores nos incomodando... Levei outra trauletada...
A noite já se aproximava, e como não tínhamos noção de onde estávamos, resolvemos sair caminhando por entre a vegetação… Estávamos com fome e sedentos... Com a escuridão, acabamos nos perdendo do piloto, que se afastou um pouco de nós, pois não aguentava ouvir a minha discussão com a Princesa...
Estávamos andando completamente desnorteados quando eu senti uma coisa me espetando na bunda... Olhei para trás e me deparei com um monte de índios com arcos, flechas e lanças, fazendo caras de poucos amigos... Eu berrei e a Princesa se assustou se deparando com a tribo... Fomos levados para a aldeia... Amarraram-nos e assim passamos a noite...
Logo pela manhã fomos levados pelos guerreiros à presença do cacique... Ele começou a avaliar o material, pois, pelo que pude perceber, eles tinham a intenção de devorar-nos... Quando me caiu a ficha que iríamos virar banquete tupiniquim, eu tentei manter um diálogo com o poderoso chefão: “Seu Cacique, olha, o Senhor está cometendo um grave erro em cobiçar essas minhas carnes! Eu não sou gostoso, não! Eu nem tenho carne! Eu vou dar uma dor de barriga em vocês! Perigo eu dizimar a tribo! Eu tenho gripe aviária! Eu estou com cólera! Eu tenho trabalho de bruxaria em cima!" Eu virei para o pajé, numa tentativa desesperada de salvar minhas penas e disse que tinha sofrido pajelança e não poderia ser comido pois eu tinha o meu corpo fechado... Nada colava...
Quando vi que o fim era inevitável, eu sugeri que eles comessem a Princesa primeiro, pois ela estava 5 quilos acima do peso, com isso eu tinha a esperança que eles se saciassem com ela e me deixassem viver mais tempo...
Entretanto, antes de concluir meu plano brilhante, eu senti que meus intestinos foram parar no meu esôfago com o chute no rabo que a Princesa furiosa desferiu contra essa ave que vos digita... Chamou-me de traira, covarde, safado e sem vergonha! Queria saber como eu tinha coragem de propor algo parecido... A porrada comeu...
Quando nos demos por conta, os índios da tribo estavam se esborrachando de rir de nós dois... Davam altas gargalhadas... O pajé cochichou algo no ouvido do cacique que mandou um de seus guerreiros nos soltar... Mandou chamar alguém que estava dentro da oca... Quando vimos era um homem branco... O cacique lhe falou algo, e ele repassou para nós dois: "O senhor cacique Pintopapaya gostou muito de vocês dois, e não vai mais comê-los, pois a carne de vocês dois é podre, visto que já vivem se dando porrada, e isso altera o sabor da carne, mas ele quer que vocês permaneçam na aldeia, pois são engraçados."
Eu, que não suporto uma crítica, retruquei com o tradutor que o cacique não poderia me chamar de carne podre, que agora eu fazia questão que ele provasse a mim e minha Princesa, pois nós tínhamos estirpe, pedigree, e ele não podia nos julgar assim...
A Princesa me deu outro chute e disse: “Cala e seu bico grande, seu retardado, pois quem vai lhe comer sou eu, e vai ser na porrada!” Eu me calei aos sons estridentes das gargalhadas dos nativos que se deleitavam a cada porrada que o Pinguim levava da Princesa...
Fomos convocados para as festividades da tribo como convidados de honra... Enquanto a Princesa se arrumava com colares e pintava o seu corpo com urucum, eu me ferrava carregando uns troncos medonhos, correndo no meio da floresta, levando picaduras de mosquitos, nadando num rio em que todos faziam suas necessidades básicas... Enfim, são nessas situações em que eu me arrependo de ter nascido macho...
O tempo foi passando e eu e a Princesa já estávamos integrados na vida da tribo, quando ouvimos um homem gritando: “Senhor Pinguim Gelado! Senhor Pinguim!” Eu me espantei com aquela aparição que veio do nada... Eu pensei: É a ajuda para nos tirar daqui do meio dessa floresta! Eu corri em direção ao homem, o abracei chorando... Disse que ele tinha salvado a minha vida, que eu não aguentava mais aquela natureba toda... Que ele era um santo homem e que eu ficaria devendo a ele pelo resto da minha vida. Ao que ele retrucou: "Devendo o senhor está, mas não a mim, e sim ao banco que represento... Estamos aqui para tentar negociar a dívida que o senhor tem conosco... "Mandei-lhe uma bifa no meio da cara, corri para pegar um arco e flecha e incitei os guerreiros da tribo a lutarem comigo contra os demônios de gravata que vieram do céu num pássaro de metal para destruir a aldeia... A gente colocou aquele almofadinha pra correr, e eu descobri que tenho uma pontaria certeira, pois flechei a bunda do camarada em cheio... Conta? Nunca mais! Porque todo dia, agora, é dia de Índio! Ops! Pinguim e Princesa Índios!

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